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Van Gogh

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Vocação para a felicidade (Carlos Drummond de Andrade)

"Não serei o poeta de um mundo caduco."

Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades dolorosas,
paixões trágicas e não correspondidas.

Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.
Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.

A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim
E transborda em ternuras, em melodias,
em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.

Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.

Faço minha estrela brilhar.
Sem receio dos encontros, desencontros,
encantos e desencantos que o amor me diz.

Contrariedades? Eu as tenho.
E quem não as tem na vida secular ?
Escassez de dinheiro? Nem é bom falar
Amores não correspondidos? Separações?
Rejeições? Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,
sem a contra parte do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.

Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar
sobre eles, procurando a solução
se a própria vida me conduz
a resposta final?

Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali
por onde os caminhos, as trilhas,
Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que felicidade
é o contrário de tristeza?
Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!


É, amigo, amanhã é sempre um novo dia
E quando a infelicidade passar por aqui,
minhas malas estarão prontas
para eu ir por ali.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O guardador de rebanhos (Fernando Pessoa)

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O vento

Quando o vento soprar em meus sonhos...
E perguntar: Com quem sonhas ?
Eu responderei: Com alguém que não sei quem.

E quando em outro sonho ele retornar,
E em meu ouvido uma canção murmurar,
Saberei que aquele alguém, de mim gosta também.

Mas no dia em que o vento não soprar...
Calma amigo, não há por que penar.
Pois o vento sopra sem destino.

Para em outros sonhos o amor levar.